O documento é uma atualização do consenso de 2014, com base em novos estudos e evidências.
Do grupo do ômega 3, o DHA (ácido docosahexaenoico) desempenha um papel fundamental para a formação neurológica e cognitiva humana, além de ter ação primordial no desenvolvimento e funcionamento da retina e do sistema nervoso central.
Encontrado especialmente em peixes marinhos como arenque, atum silvestre, sardinha e presente no óleo de krill e em microalgas, o seu consumo está bem abaixo do indicado no país, segundo o documento.
“Uma criança pequena, por exemplo, precisa ingerir diariamente, no mínimo, 100 mg de DHA, já um adulto varia entre 200 e 500 mg/dia. A média brasileira, no entanto, é de apenas 31,4 mg/dia, sendo portanto 70% menor do que o recomendado”, destacou o diretor científico da DSM, Héctor Cori, que participou do novo consenso da ABRAN.
O consumo de peixes também é baixo no Brasil. A média mínima recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) é de 12 kg por ano para cada habitante, mas no Brasil, o índice chega aos 9 kg/ano/habitante, 10 kg a menos que a média global.
Mais sobre DHA
O DHA é o principal ácido graxo presente na substância cinzenta do cérebro: “Ele corresponde a 15% do total de ácidos no córtex frontal do ser humano. Estamos falando de rapidez de informação, de raciocínio e cognição, inteligência de uma maneira geral”, informou o médico pediatra e diretor da ABRAN, Carlos Alberto Nogueira-de-Almeida
Na opinião de Héctor Cori, essa é uma das moléculas mais importantes da nutrição moderna. “Na gravidez, pode prevenir o risco de parto prematuro, influenciar nas respostas imunes e na proteção alérgica e infecciosa, além de proporcionar benefícios cognitivos e visuais até os 15 anos de idade”.
Em adultos, a substância também pode reduzir o risco de morte coronária, eventos coronários em geral e, combinado ao ácido eicosapentaenoico (EPA), baixar os níveis de triglicerídeos em cerca de 15%, como mostram estudos presentes no consenso.
Posição do Brasil no ranking da América Latina
Um levantamento que analisa a ingestão média de 76 países em desenvolvimento, colocou o Brasil como o segundo pior da América Latina, dentre as sete nações analisadas: Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Paraguai e Peru. Com índice de 31,4 mg/dia, fica à frente somente do Paraguai (24,2) e distante do líder Guiana (98,1).
Os possíveis motivos apontados pelo novo consenso da ABRAN para o baixo consumo no Brasil são: preços elevados, dificuldade de distribuição de peixe fresco na maior parte do país, preferência por outros tipos de carne, baixa qualidade do produto em feiras e mercados livres e o fato de o preparo ser considerado mais difícil.
“É preciso sempre estimular o consumo desse grupo de alimentos, sobretudo os pescados marinhos, por meio de preparações culinárias, desde a infância, para que esse hábito passe de geração em geração”, destacou a nutricionista e uma das autoras do consenso, Carolina Pimentel.
No entanto, a especialista explica que os peixes brasileiros têm uma taxa muito baixa de conversão em DHA, o que torna ainda mais difícil alcançar os níveis ideais. “Paralelamente, é preciso garantir o acesso ao DHA e isso deve ser prescrito para todos aqueles que tenham necessidades especiais como gestantes, lactantes, crianças e outros indivíduos”, enfatizou.
“Os médicos podem contribuir para reverter esse cenário se atualizando em fontes confiáveis, como os portais das sociedades científicas e associações médicas, como a ABRAN. Para ajudar nesse processo de busca pela informação, costumamos “mastigar” no portal da entidade os dados que a ciência traz, uma vez que a produção científica hoje é gigantesca. Por sua vez, os médicos podem colaborar procurando fontes confiáveis e não qualquer fonte de informação, como as redes sociais de qualquer espécie”, enfatizou o diretor da ABRAN, em entrevista ao Portal de Notícias da PEBMED.
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